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Tribo Getcoz foi originária do município; jesuítas lutaram pela preservação deles

 

No Tempo das descobertas, as nominações obedeciam a certos critérios, que tinham em vista destacar e valorizar o espaço a que eram atribuídas, evitando-se qualquer intuito de auto-exaltação dos seus pretensos descobridores os invasores; estes, quase sempre, preferiam homenagear suas terras de origem, geralmente importantes, ou aproveitavam para praticar seus pendores de filósofos ou poetas, de maneira que a nascente descoberta ou conquistada saía do anonimato com o selo da fama ou da beleza. Entre os índios tais denominações eram levadas mais a sério ainda, com a observância de certas regras místicas de que emanavam os bons e maus presságios.
Assim define o pesquisador José Rafael Lélis, de 69 anos, a forma como se chegou ao nome do município Jaicós, que pela grafia fonética, de tradição indígena era inscrita com “Getcoz”, cuja origem remota ao tempo das primeiras reduções jesuítas contemporâneas de Mem de Sá [1557-1572], portanto, bem antes das primeiras invasões pelos aventureiros da Casa da Torre, na Bahia, que em cavalos, tinham como único interesse água e capim, massacrando quem encontrasse na frente contra seus objetivos de expansão e domínio territorial piauiense.
Os jesuítas afastaram os índios escondendo-os no interior para escapar da ação predatória dos exploradores portugueses, espanhóis, holandeses e franceses nos primórdios do Brasil. Os padres Miguel de Carvalho, Phelipe Bourel e Tomé de Carvalho, fundadores das primeiras capelas piauienses – inclusive as de Bocaina e Jaicós – logo após a de Oeiras, no final do século XVII, atestaram a grande concentração indígena encontrada no local, muito próximas umas das outras o que garantia uma maior concentração de índios, facilitando assim o trabalho de catequização. Tempos depois os índios voltaram a se dispersar.
Os jesuítas sofreram severas perseguições do Marquês de Pombal, que obcecado pela cobiça confiscou-lhes os bens e expulsou-os do País. No livro “Tratados da Terra e Gente do Brasil”, de autoria do padre Fernão Cardin, secretário do primeiro visitador jesuíta do Brasil, no mesmo período do governo Mem de Sá, aparece pela primeira vez a denominação das tribos “Jeicó” ou Jaicó” que estariam localizadas nos sertões de São Francisco e confins de Mato Grosso, que seria a tradução em tupi de “Nós Estamos Quietos”.
O município de Jaicós consta das primeiras cartas geográficas do interior do Nordeste, servindo o seu traçado primitivo para estabelecer, no início do século XIX, o território paroquial, considerado o de maior extensão do Brasil, já que atingia desde a divisa do Piauí com Ceará e Pernambuco, na Serra Grande e na Serra do Araripe, até a Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato [onde se desenvolveu as pesquisas sobre o homem primitivo que datam de 50 mil anos] incluindo todos os municípios desde Pio IX, Marcolândia, Simões, Paulistana, limitando-se com Jerumenha com passagens nos limites de Oeiras até chegar um círculo do qual faz parte de Picos, cujos filhos eram batizados na Igreja Matriz Nossa Senhora das Mercês, em Jaicós, conforme os arquivos.
O historiador F.A.Pereira da Costa, no livro “Cronologia Histórica do Estado do Piauí” afirma que o vasto território dos jaicoenses foi uma das portas de entrada para a exploração do Estado, que se distingue dos demais estados nordestinos por ter sido colonizado no sertão e não pela praia. A serra de Dois Irmãos era a porta principal de acesso à colonização.
O padre Miguel de Carvalho acrescenta um ingrediente notável fruto de valiosos documentos e de pesquisa histórica. Em documento enviado ao bispo em 02 de março de 1697, relacionou diversos agrupamentos indígenas que encontrou no interior do Piauí, inclusive os Jaicoz [com grafia z] e seus vizinhos, estes conhecidos por Icós, que estacam na Serra do Araripe, entre os municípios de Padre Marcos, Francisco Macedo e Marcolândia [antes território jaicoense] que são descritos como barbados, uma miscigenação do índio com branco, que estavam por aqui desde a segunda metade do século XVI, época das reduções jesuítas.
A colonização do Piauí pelos vaqueiros registra muitos conflitos entre os invasores – os cavalarianos – e os índios que se defendiam do perigo representado pelo homem branco e cada dia mais se aprofundava pelo interior do Estado.

Jaicós no centro

Conhecedores de cartografia – a bússola como instrumento – fizeram com que os jesuítas concentrassem os índios em um local pólo: o escolhido foi Jaicós para agrupá-los vindos de toda costa nordestina e por ser um ponto equidistante das capitais nordestinas.
- A Vila de Jaicós, foi em seu começo, uma aldeia de índios da tribo ou família Jaicós, e situada no mesmo local em que hoje se acha, tendo, porém em sua origem o nome de Cajazeiras, que perdeu, por este com que hoje se denomina. É o que explica a Cronologia Histórica do Estado do Piauí, editado por F.A. Pereira da Costa.
A criação da aldeia data de 1731 e em 1762 já contava com uma população de 354 índios domesticados, com 28 fogos no povoado. Em 1766, por carta, o governador João Pereira Caldas recomendava ao diretor da aldeia que evitasse o espalhamento dos índios pelos sertões e que eles fizessem as plantações por perto, as casas necessárias e sem demora, uma igreja, para que fossem as missas e tivessem pelo pároco o devido respeito. Um ano após o governador criou uma escola para índios e outra para índias.
O padre Antônio Delfino da Cunha foi o primeiro vigário da nova capela no povoado que veio a ser inaugurado em 1805. O bispo do Maranhão, dom Luis de Brito Homem desmembrou o território religioso de Jaicós da antiga capital, Oeiras, em termo lavrado em 12 de julho de 1805.
A história registra que em 1819 a aldeia de Jaicós já havia perdido o seu principal característico de núcleo indígena, pela população de castas variadas que continha, mas ainda era governada por um diretor, Alexandre Bartolomeu de Carvalho. Em 1825 ainda restavam vestígios de uma velha aldeia, aos quais foram desaparecendo aos poucos e hoje apenas conserva o nome e a tradição.
A prosperidade atingida pela freguesia em 1830 era tal que uma das três únicas escolas do futuro Estado localizavam em seu território. Reconhecendo o contraste que havia entre o adiantamento da localidade e a modéstia de sua categoria, sancionaram os poderes públicos o Decreto de 06 e Julho de 1832 elevando-se à categoria de vila, e criando, conseqüentemente o município com território desmembrado do de Oeiras. A instalação se verificou em 21 de fevereiro de 1834.

 


FONTE: Folha de Picos - editores: Fábio Gonçalves, Orlando Berti, Deisy Fernanda